Batalha dos Aflitos: escalações, gols e tudo sobre Náutico x Grêmio da Série B de 2005

Depois de quase ser rebaixado no ano do seu centenário (2003), o Grêmio voltou a fazer uma campanha muito ruim no Campeonato Brasileiro de 2004 e caiu para a Série B. Cheio de dívidas, sem craques e beirando à falência, o clube gaúcho ficou na quarta colocação na primeira fase do campeonato, o time jogou o necessário para se classificar em segundo no Grupo A da segunda fase e garantiu a vaga no quadrangular final. Apenas os dois primeiros estariam garantidos na primeira divisão.

Depois de cinco rodadas, tudo estava aberto para os últimos jogos do quadrangular. Náutico e Grêmio se enfrentariam no estádio dos Aflitos e Santa Cruz e Portuguesa no Arruda. A cidade de Recife, ao menos no dia 26 de novembro, seria a capital do futebol para milhões de torcedores. Náutico, Santa Cruz e Portuguesa terram que vencer para conseguir o acesso. Apenas o Grêmio jogava pelo empate.

No Arruda, o Santa Cruz venceu e carimbou o passaporte para a Série A. Nos Aflitos, muita catimba antes do jogo por parte do Náutico, que construiu um ambiente para enervar os atletas do Grêmio. Primeiro, hostilidade ao extremo dos torcedores do Timbu que cercaram o ônibus gaúcho e forçaram uma escolta policial aos atletas tricolores.

Segundo, o vestiário onde o Grêmio teria que ficar era pequeno, mirrado, cheirava à tinta óleo fresca e não dava acesso ao gramado para o reconhecimento dos jogadores. A porta do vestiário foi soldada e trancada com cadeado. Já bem tensos e nervosos por conta de toda aquela bagunça e também pelo calor, o tricolor foi a campo contra tudo e todos. Mas nem o mais pessimista torcedor poderia prever tanto drama como o que estava prestes a acontecer.

Se o confronto entre Grêmio e Náutico terminasse empatado, o Grêmio subiria e até ficaria com o título pelo saldo de gols. Se os gaúchos perdessem, ficariam mais um ano fora da elite do futebol nacional. Se ganhassem, seriam campeões e estariam de novo na Série A.

A partida foi disputada no Estádio dos Aflitos, casa do Náutico, localizado em Recife.

O jogo, por ser decisivo, valendo vaga na elite, já tinha um clima tenso, como era de se esperar, mas, até os 30 minutos do segundo tempo, parecia que transcorreria normalmente. O primeiro tempo terminou empatado por 0 a 0, com o Náutico perdendo uma cobrança de pênalti: aos 31 da primeira etapa, Domingos fez penalidade em Paulo Matos; o lateral Bruno Carvalho cobrou e acertou a trave, desperdiçando a oportunidade de abrir o placar.

Na segunda etapa, a partida seguia empatada. Aos 30 minutos, porém, o ambiente começou a mudar. O gremista Escalona colocou a mão na bola em lance no lado do campo, recebeu o segundo amarelo e foi expulso. Aos 34, outra mão na bola, agora de Nunes, dentro da área, e Djalma Beltrami marcou pênalti. Os jogadores do Grêmio não concordaram com a decisão, em lance polêmico, e partiram para cima do juiz. O lateral Patrício, mais exaltado, deu uma peitada no árbitro e foi expulso direto. Os atletas seguiram com as reclamações e Nunes também recebeu o vermelho. Neste momento, o juiz pediu ajuda para o policiamento. Os policiais entraram em campo e outras pessoas, como dirigentes e reservas, invadiram o gramado, dando início a uma grande confusão.

No meio disso, com os repórteres em campo, o jovem Anderson, que depois se tornaria herói, deu uma entrevista à Globo reclamando muito. "O juiz estraga o jogo. O Campeonato Brasileiro está uma palhaçada, todo mundo sabe disso. Não adianta, sempre roubando contra time do Sul, não dá, está de palhaçada", disse. A confusão se estendeu bastante, e Domingos também foi expulso, deixando o Grêmio com quatro jogadores a menos. A partida ficou parada por quase meia hora, e retornou somente aos 59 minutos do segundo tempo, já para a cobrança do pênalti. O lateral Ademar bateu para o Náutico e parou na defesa do goleiro Galatto.

No lance seguinte, após a cobrança de escanteio dos pernambucanos, Anderson puxou contra-ataque, recebeu falta de Batata, que já tinha amarelo, e acabou expulso. Nesse momento, o Grêmio ficou com três jogadores a menos em campo. Na cobrança, o próprio Anderson, após jogada rápida, ficou com a bola, avançou, invadiu a área driblando e fez o gol com quase 61 minutos, colocando o Tricolor em vantagem de 1 a 0. O duelo continuou até os 69 minutos, quando enfim o árbitro apitou o término do jogo. Com a vitória heroica, o Grêmio garantiu o acesso para a Série A e, de quebra, ficou com o título da Série B.